Centro Espírita: Casa de Serviços


Centro Espírita: casa de serviços


Wilson Garcia

Temos os dirigentes de estarmos alerta para a atividade do centro espírita de maneira constante. O mundo progride, a filosofia de direção do centro também. Até aqui, a história do centro espírita demonstra que se fez dele, em boa parte dos casos, uma extensão de doutrinas estranhas: as religiões formalistas. Era natural que isto acontecesse. Não o será permanecer no mesmo caminho! A cultura religiosa dominante na sociedade foi transportada inconscientemente para a formação dos nossos centros, pelos indivíduos. Principalmente as culturas católicas, protestantes e as originárias de crenças como as da Umbanda, Quimbanda e da Teosofia.
Analisemos os nossos centros espíritas: boa parte possui uma sede em tudo parecida com um templo de fé religiosa estranha ao Espiritismo: o tipo de construção, a disposição das cadeiras ou bancos, o palco etc. A isto, muitas vezes se juntaram quadros e imagens de santos e se estabeleceram nomes de instituições que relembram cultos diversos. Mesmo naqueles em que os quadros e imagens não surgiram, a idéia às vezes prevaleceu: os santos foram substituídos pelos Espíritos de personalidades do passado. É o que acontece em alguns lugares, onde Bezerra de Menezes é cultuado na forma e proporção dos santos católicos.
Essa cultura às vezes se transporta para o centro espírita sob formas sutis de fixação. Tão sutis que as pessoas não chegam a percebê-las senão com algum esforço. Por exemplo, os freqüentadores assumem a postura de fiéis, de acordo com o que aprenderam em suas religiões de origem: comparecem ao centro como quem tem uma obrigação cultual, mantendo a crença das aparências.
Imaginam que se não forem e tomarem um passe estarão em dívida com Deus. Entre outras coisas, imaginam ter no dirigente mais destacado ou médium de plantão o seu guia terreno, à semelhança do padre ou pastor, sob cujas mãos vê o seu e o destino das demais pessoas que ali freqüentam. Não desejam por isso desagradá-lo, mas são capazes de mentir se cobrados sobre possíveis ausências. É a mentira que os protege de possíveis sanções futuras, na mesma idéia de que poderá ser mandada rezar uma novena ou alguns padres-nossos para ficar bem com Deus.
A passividade dos dirigentes diante deste quadro, ou a sua inobservância, gera a continuidade desse estado e a conseqüente falta de preparo dos freqüentadores, que assim permanecem o tempo todo.
Falta até uma reflexão pública do dirigente sobre seu posicionamento no comando, quando poderia demonstrar que ele não possui a postura do padre ou pastor, pois não é condutor de almas e sim orientador; que não tem seu lugar garantido na espiritualidade só por ser dirigente; que precisa, como todos os freqüentadores, construir o seu próprio destino; que o futuro lhe reserva o mesmo que reserva para os freqüentadores: uma posição de acordo com seus méritos; que o Espiritismo não é a doutrina da salvação, mas do conhecimento que ensina a todos a caminharem pelos seus próprios pés; não é a doutrina do guiismo, a que as pessoas devam se entregar para que ela realize por eles o esforço de evolução; é a doutrina da libertação; que por isso cada qual constrói o seu destino e o futuro.
Espiritismo é, pois, a doutrina do mérito e não das conquistas segundo o esforço alheio.
Torna-se necessário discutir se o centro espírita é:
  1. Templo
  2. Pronto-socorro
  3. Escola
Deste estudo se vai concluir, com certeza, que o centro realiza:
  1. atividades de templo, quando esclarece e ensina sobre ligações com Deus, orações, assistências em parceria com Espíritos etc.;
  2. atividades de pronto-socorro, quando atende ao sofrimento espiritual ou material das pessoas, contribuindo para sua cura ou melhora;
  3. atividades de escola, quando ensina a doutrina à semelhança das instituições escolares. Embora tenha parcelas dessas atividades em sua estrutura, o centro não é templo, pronto-socorro ou escola. Não sendo nada disso, o que é então? A melhor definição que se pode dar ao centro espírita é a de CASA DE SERVIÇOS. O centro é prestador de serviços, mediante os quais contribui para o progresso da sociedade. Não sendo proselitista, o centro não tem interesse maior na quantidade de pessoas a freqüentarem sua sede; seu foco central é auxiliar a preparação do indivíduo para que ele atue na sociedade. Para isto, deve prestar-lhe serviços de qualidade.
O centro e os serviços - Cresce dia-a-dia a consciência nos meios espíritas de que o centro espírita é uma instituição voltada à prestação de serviços à sociedade, a partir do atendimento do ser humano.
Essa consciência vai por assim dizer eliminando os falsos conceitos de um local mágico, onde se conseguem apenas curas e revelações interessantes, onde as almas aportam para conquistar quase sem nenhum esforço o passaporte para a vida superior. Com isso, as idéias de que o centro seja isoladamente o pronto-socorro, a escola ou o templo perdem terreno para esta concepção maior de prestação de serviços.
Prestar serviços significa realizar no centro atividades úteis aos indivíduos e à coletividade, segundo o ensino maior de Jesus de servir ao próximo com a máxima humildade. Mas aqui a humildade não pode assumir a condição piegas dos comportamentos estereotipados, dos sorrisos melífluos, das promessas impossíveis de cumprimento, enfim, das condições que caracterizam as religiões formalistas. Prestar serviços no centro espírita significa realizar os trabalhos com a máxima qualidade possível, de modo que o atendimento resulte sempre em fato positivo para o indivíduo e retorne em forma de conceito para o próprio centro.
Os serviços do centro não são cobrados. Nenhum deles. Nem por isso a sua qualidade pode ou deve ser duvidosa. Os dirigentes são criaturas que se colocam a serviço desinteressado de quem quer que necessite, não recebendo qualquer remuneração pelo trabalho que realizam, assim como os médiuns e demais tarefeiros. Tudo ali é gratuito. A qualidade, porém, não pode estar ligada a remunerações que não se têm. Os serviços do centro, mais do que qualquer outros prestados e trocados em nossa sociedade, carecem de qualidade superior, porque alcançam diretamente a alma humana. Quanto mais desinteressados sejam os serviços, maior é a responsabilidade de quem os realiza.
A idéia de prestador de serviços não elimina as precedentes: pronto-socorro, escola e templo. Está claro que o centro realiza atividades nestas três áreas e em outras mais, porém não há preponderância de nenhuma delas em relação às outras. Ao tomarmos o centro por prestador de serviços assumimos a concepção de um local amplo, onde as realizações se multiplicam e parecem não ter limites, dependendo das disponibilidades e interesses dos dirigentes.
Assim como é ilimitado o campo de realizações, preciso é que se observe o que fazer e como fazer. O entusiasmo descuidado poderá levar para dentro dos centros atividades que ficam muito bem em outros locais, mas não constam do rol de serviços espíritas. É preciso agir aqui com o máximo rigor doutrinário, a fim de não descaracterizar os centros e o movimento espírita, atingindo por decorrência a Doutrina Codificada. Na ânsia de realizar serviços, muitos companheiros, sem a melhor orientação, acabam por introduzir no centro serviços que lhes são caros ao coração, dando-lhes preferência em relação aos demais, chegando mesmo a tecer uma muito forte rede de argumentos para defendê-los, mas se esquecendo de que os serviços a serem privilegiados serão os genuinamente doutrinários.

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